Estádio, classe C e incentivos decolam negócios em Itaquera

Com investimentos em projetos como o novo estádio do Corinthians, o Itaquerão e obras viárias, além de programas de incentivo fiscal e do crescimento do poder de compra da classe C, o bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, tem atraído o interesse de empreendedores e empresas interessadas em expandir seus negócios.

O Shopping Metrô Itaquera, ligado ao metrô de mesmo nome – onde também está localizado um posto do Poupa Tempo, serviço do governo do Estado – tem observado o aquecimento do mercado local desde sua abertura, em 2007. “Aquele shopping foi plantado no deserto. Hoje, é um dos mais bem-sucedidos de São Paulo. Há lojas de causar inveja a qualquer outro”, comenta José Alexandre Sanches, coordenador de Desenvolvimento Econômico da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho de São Paulo.

Segundo Jonas Fortes, superintendente do estabelecimento, o número de lojas na lista de espera para atuar no local, que antes somava 22, hoje já chega a 40. O preço do aluguel permanece o mesmo, mas o percentual cobrado sobre as vendas já teve um aumento de dois dígitos, mas que Fortes não revela. A expansão da procura se consolidou há cerca de seis meses, quando a prefeitura formalizou a construção do novo estádio do Corinthians. “Antes, havia uma série de polêmicas”, explica Fortes.

Obras de infraestrutura
Sanches acredita, no entanto, que, o estádio não é a obra mais importante que está sendo realizada na região. Ele destaca outras, como o trecho leste do Rodoanel Viário Mario Covas(que aproximará a Zona Leste do porto de Santos e a ligará a rodovias como a Anchieta, Imigrantes e Anhanguera) e as obras de infraestrutura do pacote chamado de Operação Urbana Rio Verde-Jacu.

Além de melhorias no transporte e no acesso, há também iniciativas de melhoria do serviço público, como o Polo Institucional Itaquera. Construído junto ao Itaquerão, ele abrigará um fórum, uma rodoviária e um centro de convenções e eventos. Também contará com uma unidade de ensino profissionalizante do Serviço Nacional da Indústria (Senai), além de faculdade e escola técnica estaduais.

Público C com cabeça de A
A grife de roupas Handbook Fashion (HbF) é uma das novatas na região. Sua loja no Shopping Metrô Itaquera foi aberta em novembro de 2011. Felix Mifune, diretor de marketing da HbF, diz que ela tem tido sucesso no local. “Eu nunca vi um fluxo de gente tão grande quanto o desse shopping.”





Segundo Mifune, sua marca – que contabiliza 27 lojas em 19 anos de existência – não estabelece parâmetros de classe social para o público-alvo. Ela procura investir em uma qualidade acessível a pessoas com variáveis níveis de renda, seguindo a linha de marcas internacionais, como H&M e Zara. Antes de ir para Itaquera, a loja já atuava em shoppings de bairros associados a clientes da classe A paulistana, como o Morumbi e Higienópolis.

“Todos falam especificamente em Itaquera como região de público classe C, mas na verdade a Zona Leste cresce nas duas pontas, desde o público AB ao CD. É a que mais cresce na cidade e acabamos sempre indo atrás para antecipar essas movimentações e investir nelas”, afirma Mifune.

Público A com cabeça de C
Wagner Sarnelli, sócio-diretor da Data Popular, empresa dedicada a pesquisas sobre o consumo das classes C e D, concorda. Além do crescimento no nível de consumo da nova classe média, ele vê também um fenômeno de volta de integrantes da classe A para bairros estabelecidos como de classe C. Não só em Itaquera, como em outras áreas da Zona Leste, entre as quais Vila Prudente, indivíduos que haviam enriquecido e mudado para bairros tradicionalmente AB, como os Jardins, têm “voltado para suas origens a fim de ficar perto da família, coisa que antes não acontecia”, de acordo com Sarnelli.

Segundo dados de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 91% da população economicamente ativa da região ganhavam até 5 salários mínimos, algo que ele julga estar mudando.

Para Wagner Sarnelli, além de lojas populares – como as grifes de roupas Torra-Torra e Scala, a marca de sapatos Kallan e a bandeira popular Preço Baixo Todo Dia, do Walmart – o que ele chama de “miolo” de Itaquera estaria apto a receber uma loja com o perfil de público intermediário. Ele cita a Cacau Show, por exemplo. “Como em todo bairro, existem núcleos com pessoas com mais dinheiro do que outras. Existe um público com bolso de A e cabeça de C que não quer sair de lá. Ele quer ser o melhor da Zona Leste.”

Mercado imobiliário
O crescimento também tem atraído o interesse de empreiteiras. Para Sarnelli, o desafio agora é lidar com o fato de que os terrenos se valorizaram – a tal ponto que os imóveis construídos não podem mais se enquadrar na linha de financiamento do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, que tem o teto de R$ 200 mil. Segundo ele, empresas como Tecnisa Flex, PDG e Elite Imóveis, que trabalham no mercado dos chamados “econômicos”, deverão lidar com esse novo fator.

Fortes observa o mesmo aquecimento a partir do Shopping Metrô Itaquera. “Hoje, não se encontram mais terrenos para comprar. Consequentemente houve um feirão de imóveis no shopping, em que se venderam 300 unidades em apenas quatro dias.”

Fonte: Portal Terra





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