Fielzão: remoção de moradores causa revolta em Itaquera

Representantes de movimentos sociais, partidos e ONGs (Organizações Não Governamentais) do bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, pretendem organizar manifestações contra a remoção de famílias previstas na área por causa da construção do estádio do Corinthians, cotado para receber o primeiro jogo da Copa do Mundo de 2014. Ao menos 3.000 famílias terão de deixar suas casas, segundo integrantes do movimento Copa para Quem?, criado por moradores e entidades.

Eles querem organizar um ato de protesto no dia 30 de julho, data em que a Fifa realizará o sorteio das chaves eliminatórias da Copa-2014. Outras manifestações deverão ser realizadas por um Comitê Popular da Copa, criado pelo Movimento de Moradia de São Paulo, entre outras entidades, para protestar contra as remoções de famílias.

A relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, divulgou recentemente um comunicado sobre supostas violações do direito à moradia relacionadas à preparação do Brasil para a Copa de 2014. Segundo ela, a ONU (Organização das Nações Unidas) tem recebido denúncias sobre despejos e remoções nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Natal e Fortaleza.

Em Itaquera, integrantes do movimento Copa para Quem? dizem que moradores de 16 áreas na região – entre as quais várias favelas – poderão ser removidos em razão de obras direta ou indiretamente ligadas ao estádio, como as vias de acesso.

Avaliam que deverão ser transferidos para outros locais moradores das favelas da Paz, da Fatec, Três Cocos, Goiti, Caititu e Rio Verde, todas localizadas nas proximidades. Por meio de uma nota, a prefeitura confirmou a transferência de apenas duas favelas.

José Aparecido de Andrade, representante da ONG Instituto de Cidadania Terceiro Milênio e um dos líderes do movimento Copa para Quem?, reclama da falta de avisos sobre a remoção.

– Mas nós não recebemos informação nenhuma. Todo o mundo aqui está preocupado e apreensivo, sem saber o que fazer. Tem gente que mora aqui há 50 anos, ajudou a construir esse bairro e agora está sendo tratado com esse descaso.

Outro integrante do movimento, o sociólogo Tiaraju D’Andrea ressalta que as entidades e militantes de movimentos sociais não são contra o estádio, mas sim contra um suposto desenvolvimento que traria prejuízos à população.

– A maior parte dos integrantes do nosso movimento é corintiana, como eu. Nós queremos um estádio, mas não assim da forma como estão fazendo, com imposição, sem diálogo e sem respeito à população.





Ednaldo Moreira dos Santos, dono de uma oficina na avenida Itaquera, entre o conjunto habitacional Cohab 1 e a favela Três Cocos, afirma que os moradores não sabem a quem recorrer.

– O que sabemos é que vai passar por aqui um viaduto, vindo da avenida Cidade Líder para a avenida Radial Leste. Já apareceu um pessoal por aqui medindo tudo. Mas não deram explicações alguma.

Em outra área, na favela da Caititu, no Jardim Vila Nova, deverá passar uma nova avenida para facilitar o acesso do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, ao estádio.

Mas, segundo a professora Ana Paula Cordeiro Santos, moradora do local há 11 anos, quem mora no local serão os mais afetados pela obra.

– Vamos fazer visitas nas casas, bater de porta em porta e conversar para que os moradores não aceitem simplesmente o que eles querem dar. Essas desapropriações são feitas do jeito deles e sempre quem sai perdendo são os moradores.

De acordo com a relatora da ONU Raquel Rolnik, em todas as denúncias de violações ao direito de moradia no Brasil haveria “um padrão de falta de transparência, consulta, diálogo e negociação justa”. Para ela, são preocupantes as indenizações muito limitadas oferecidas aos moradores, “o que é ainda mais grave dada a valorização imobiliária em locais onde estão sendo feitas as obras”.

Prefeitura diz que duas comunidades terão de sair

A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo confirmou a transferência de moradores de apenas duas favelas na região de Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Segundo a prefeitura, existem projetos de urbanização para algumas comunidades de Itaquera, já previstos no Plano Municipal de Habitação, entre eles para as favelas da Paz e Agreste de Itabaiana. Mas observou que não haveria qualquer intervenção programada no momento. Obras a cargo do governo do Estado deverão ser realizadas na área.

A prefeitura revelou, em nota, que estão programadas para a região “a adequação do sistema viário do entorno”, além das construções de um Fórum Judiciário, um terminal rodoviário, um parque linear, um centro de convenções e eventos, uma faculdade de tecnologia, uma escola técnica e uma unidade do Senai.

Para um dos projetos previstos, a Operação Urbana Rio Verde Jacu – um plano para desenvolver a economia local, aprovado já em 2004 -, qualquer desapropriação dependerá da aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo, garantiu a prefeitura.

Fonte: R7





2 Comentários

  1. Paulo 24 de julho de 2011
  2. ADILSON 15 de novembro de 2011

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